O Estabelecimento da Kabbalah na Provença
As Chassidut no sul da França
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Entre os anos medievos de 1150-1200, apareceu o Sepher ha-Bahir, ostensivamente uma forma de Midrash antigo. Esta obra fora editada com base em uma série de outros tratados que vieram, originalmente, da Alemanha e do Oriente, na maior parte da Babilônia.
Assim descreve o historiador Gershom Scholem a influência por trás do Sepher -ha-Bahir:
"Esses primeiros estágios estavam conectados com a existência de uma tradição gnóstica judaica, associada, em determinados círculos orientais, com o misticismo da Merkavah. Os principais vestígios forma incorporados nas primeiras partes do Sepher ha-Bahir e também em alguns poucos registros preservados nos escritos dos chassídicos asquenazes. O Sepher ha-Bahir, ostensivamente um Midrash antigo, apareceu na Provença em algum momento entre 1150 e 1200, mas não depois disso; ele foi aparentemente editado lá a partir de uma série de tratados que vieram da Alemanha ou diretamente do Oriente."
Cabala, p 61. Gershom Scholem
A obra Sepher ha-Bahir possui opiniões que não eram correntes na Provença e na Espanha, e isso fica bastante claro no comentário sobre o Sepher Ietsirah por Judá b. Barzilai, que foi escrito no XII século e que contém tudo o que o autor conhecia das tradições da ma'asseh bereshit e, em especial, da ma'asseh merkavah.
Na "Enciclopédia de Filosofia Routledge" online, nos apresenta uma visão que bem resume a natureza da Qabbalah, nos seguintes termos:
Também, no site "My Jewish Learning" encontramos as seguintes observações:
Tradução em português:
Mais uma vez, o Gershom Scholem, na sua obra "Cabala" na página 61, nos acrescenta um dado importante:
"Em sua interpretaçãodas dez Sefirot do Sepher Ietsirah nao há mençãoa elas como "aeons" ou atrubutos divinos, ou como poderes dentro da Merkavah, como aparecem no Bahir. O comentário dele é (Judá b. Barzilai) é totalmente impregnado de do espírito de Saadia Gaon, muito diferente do Bahir, que é totalmente despreocupado de ideias filosóficas ou de qualquer tentativa de reconciliar a filosofia com os conceitos que a obra propõe. Escrito na forma de interpretações de versículos bíblicos, particularmnte passagens de caráter mitológico, o Bahir transforma a tradição da Merkavah em uma tradição gnóstica relativa aos poderes de Deus que se encontram dentro da Glória Divina (Kavod), cuja atividade na criação é aludida através da interpretação simbólica da Bíbia e da agadah." (Cabala, p. 61).
(אלעזר מוורמייזא) Eleazar de Worms
No que diz respeito aos escritos de Eleazar de Worms, há evidências de que ele tinha familiaridade com essa terminologia, particularmente em relação ao simbolismo da Shekinah. A Sepher ha-Bahir não continha uma teoria completa das Sefirot e muitas das afirmações nele não seriam compreendidas nem mesmo pelos Kabbalístas mais antigos na Europa ocidental.
Lá, aparece a teoria da transmigração de almas e ela é apresentada como um mistério, uma ideia autoexplicativa (axiomática) em si e que não necessita de justificação filosófica, apesar da oposição de filósofos judeus desde o tempo de Saadia.
Sobre a antiguidade de certas crenças qabbalísticas, podemos citar a Brit HaDashah, que mostra, nos 4 evangelhos, cerca do primeiro século, o Rabboní Yéshua usando o termo em grego:
Tradução:
Seguindo uma perspectiva ascética, Jacob Nazir pertenceu a um grupo especial chamado de perushim no dizer rabbínico e naziritas na terminologia bíblica (lembrem-se do movimento nozirit), cujos membros não praticavam o comércio, mas eram sustentados por suas comunidades de modo que pudessem dedicar todo o seu tempo à Torah. Pela própria natureza, esses indivíduos levavam uma similaridade com os chassidim, e há evidências de que alguns deles levavam uma vida chassídica.
A ideia de Kavod, no sentido saadiano (Saadia Gaon) simples, não foi considerada particularmente um mistério, mas interpretações em consonância com o espírito da teoria das Sefirot na Bahir foram sempre consideradas "o grande mistério".
Assim elabora Gershom Scholem, na p. 63 da sua obra Cabala:
"Versões judaicas de teorias neoplatôpnicas do Logos e da Vontade Divina, da emanação e da alma, agiram como poderosos estimulantes. Mas as teorias filosóficas a respeito do Intelecto Ativo enquanto força cósmica, com o qual era possível aos profetas e aos poucos escolhidos se associar, também penetraram nesses círculos. A íntima proximidade dessa teoria com o misticismo se destaca claramente na história do misticismo medieval islâmico e cristão e, sem surpressa, age como importante elo na cadeia que conecta muitos cabalistas com as ideias de Maimônides."
Assim, segundo esse grande historiador e exegeta da cabala, o real significado histórico dessa ciência pode ser identificado como produto da interpretação do gnosticismo judaico com o neoplatonismo. O qual sistema se encontra nas raízes tanto do islamismo quanto do cristianismo.
No campo da ideologia, não há nada em comum entre as ideias dos cabalistas e as ideias dos cátaros, exceto na questão da transmigração, que os cabalistas herdaram de fontes orientais do Sepher ha-Bahir. Em tese, a teologia dualista dos cátaros opunha-se à opinião dos judeus; mesmo que o dualismo seja uma percepção oriunda da mente humana, através dos 5 sentidos.
Abrahão b. David, em sua obra crítica a Maimônides (Hilchot Teshuvah, 3-7) apresenta uma defesa da corporeidade de Deus e também interpreta a agadah em Eruvim 18a, de que Adão foi a princípio criado com duas faces. Ele também tese uma reflexão sobre a especulação cabalista sobre os atributos divinos - as Sefirot.
Já o seu filho, Isaac o Cego (morto por volta de 1235), que viveu em Narbonaou na região, dedicou sua inteira obra ao misticismo e reuniu mutos seguidores na Provença (França) e na Catalunha (Espanha).
No topo de suas prioridades quanto as qualidades divinas, Isaac, o Cego pos o pensamento (machshavah), do qual emergira as frases divinas, "as palavras" que que originaram o mundo. Acima desse pensamento, ele colocou o Deus Oculto, que é chamado pela primeira vez de pelo nome de Ein-Sof ("o Infinito"). Segundo ele, o pensamento do homem ascende através da meditação mística até alcançar e ser completamente absorvido pelo "Pensamento' Divino.
Na sua teoria sobre o Kavod (Glória de Deus), o Saadia Gaon faz um comentário ao Sefer Ietsirah no qual ele faz conexões que podem ser encontradas na tradução do Emunot ve-De'ot. Estas se referem ao fato de que "o éter seria impossível de ser abarcado. A ênfase no misticismo das luzes do intelecto é próxima em espírito, embora não em detalhes, da literatura noeplatônica posterior, como, por exemplo, o Livro das Cinco Substâncias de Pseudo-Empédocles (da escola de Ibn Masarra na Espanha). Por exemplo, os essências superiores que nos são reveladas, segundo o Sefer ha-Iyun e diversos outros textos, a partir do "mais alto mistério oculto" ou da "treva primordial", são elas: a sabedoria primordial, a luz maravilhosa, o chashmal , a neblina (arafel), o trono de luz, a roda (ofan) da grandeza, o querubim, a roda da Carruagem, o éter circundante, a cortina, o trono da glória, o lugar das almas, e o lugar externo do sagrado.
Todos esses conceitos estão inseridos dentro do texto em hebraico, e estão virtualmente inacessíveis para o leitor típico por meio de traduções.
Nos aprofundaremos muito mais, ao passo que começarmos a ler extratos dessas obras medievais através de aulas ao vivo, como um reforço ao tema geral desse curso da história da Kabbalah.
O processo de expansão das crenças filosóficas de natureza metafísica, como a verdadeira natureza do ser (ontologia) se espalgaram e chegaram até influenciar a obra Divisione Naturae de João de Escoto de Erígena, sendo parte da grande discussão sobre os "Universais", mas ainda falaremos mais sobre isso.
Na nossa próxima Aula 07, iremos conhecer o legado da escola de Girona, na Catalunha, Espanha, no século XIII.
Shalom a todos!
Nos anos seguintes ao século XII, a cabala se espalhou para além do círculo de Abrahão b. David de . Nesse momento, o encontro entrea tradição gnóstica contida no Bahir e as ideias neoplatônicas a respeito de Deus, Sua emanação, como também o lugar do homem no mundo foi extremamente recompensador, levando à mais profunda interpretação dessas ideias e teorias místicas já conhecidas.
Nesse período, a Provença foi o palco de uma intensa sublevação no mundo cristão, quando a seita dos assumiu grande controle da maior parte de , onde os primeiros centros de estudos cabalísticos estavam localizados. Para muitos historiadores ainda não ficou claro em que medida houve, ou não, uma conexão entre a explosão no judaísmo nos círculos dos perushim e dos chassidim e a profunda revolta na cristandade que encontrou expressão no movimento catarista, esse movimento que mesclava elementos do gnosticismo e do neoplatonismo.